As palavras não são só palavras. Carregam simbolismos, pré-conceitos, sentimentos, conotações.

Na Inglaterra, França, Espanha, Portugal, quem tem mais de 60 anos é chamado de senior, com ou sem acento agudo. Os descontos em transporte e entretenimento são para senior, ou sénior. Ninguém fala em "old", "vieux", "viejo", "velho". Porque, para eles, soaria desrespeitoso. Velho ou idoso em qualquer idioma remete a alguém fragilizado, ultrapassado, dependente. Com maior expectativa de vida hoje, surgem os espirituosos: "Idoso é quem tem 10 anos a mais do que eu". 

No Brasil, existe mais ambiguidade. Quando uma pessoa de mais de 60 anos é atropelada ou assaltada ou sofre um mal repentino na rua ou mesmo quando concorre a uma vaga de emprego em algum lugar, é chamada nas reportagens de "idosa". Se a pessoa dirige filmes ou atua em novelas ou preside uma empresa, é chamada de veterana ou experiente. O veterano cineasta, a veterana atriz, o experiente empresário, a experiente médica. No Festival de Cinema de Cannes, temos um monte de veteranos, jamais idosos, embora alguns tenham mais de 80 anos. 

Por que não chamar todos de sênior? Famosos e desconhecidos? Sênior pressupõe senhoridade, experiência, autoridade. Sociedades que prezam seus velhos admiram essas qualidades. A pessoa viveu o bastante para poder ensinar, para entender as limitações dos mais jovens, para ser menos ansiosa, para não deixar a ambição nublar seu desempenho ou atropelar o colega, para ser mais tolerante com as limitações do próximo e as suas próprias. Não é sempre assim que a banda toca, mas a tendência é que uma certa sabedoria se instale com a idade mais avançada. 

Os 60 anos garantem prioridades em filas e descontos. Agora, há um projeto na Comissão de Seguridade da Câmara dos Deputados para proibir o uso da figurinha do boneco arqueado, com bengala, para identificar quem tem mais de 60 anos, junto a assentos reservados no transporte coletivo e junto a caixas em bancos. Essa seria hoje uma associação exagerada, um pouco caricata, a quem tem mais de 60, quando uma pessoa se torna oficialmente idosa pelo Estatuto. Pelo projeto de lei, o bonequinho com bengala é uma imagem pejorativa, que não corresponde aos novos sexagenários ativos. Não que isso vá melhorar sua saúde, mas pode aumentar sua autoestima. Afinal, a reforma da Previdência deverá aposentar só quem tem 65 anos...há cirurgiões operando com mais de 70 anos...e tenho visto muita gente ultrapassar os 90 com lucidez.

Será que a colunista está escrevendo isso por ter passado dos 60? Claro! Se você também passou, prefere ser chamado de velho e idoso ou de experiente e sênior? 

Por o Globo | RUTH DE AQUINO