Presidente concedeu entrevista ao apresentador Ratinho.
Folha SP - O presidente Jair Bolsonaro (PSL) reconheceu, em entrevista ao apresentador Ratinho, que o governo ainda não tem os votos para a aprovação da reforma da Previdência na Câmara, mas afirmou não considerar que a tramitação do projeto está devagar.
A entrevista, com quase uma hora de duração, foi gravada no começo da semana passada e veiculada pelo SBT na noite desta terça-feira (4).
“A Câmara está cumprindo os prazos regimentais, por enquanto a gente não tem os 308 votos. A bola está com o parlamento agora”, disse Bolsonaro respondendo a um questionamento de se a tramitação não estaria mais lenta que o esperado.
Além de perguntas do apresentador, foram exibidos questionamentos de pessoas na rua. Uma mulher perguntou por que Bolsonaro mudou de ideia sobre a necessidade de reforma.
Durante todo o período em que foi parlamentar, o presidente foi contra regras mais rígidas para aposentadorias.
“Eu tive acesso aos números que eu não tinha, à realidade, à situação do caixa”, afirmou o presidente, que foi deputado federal por 27 anos.
Ele acrescentou, afirmando que a mulher parecia “bastante chateada”, que, pela idade, ela já estaria aposentada e para ela nada mudaria com a reforma.
A reforma da Previdência do governo Bolsonaro foi entregue ao Congresso em 20 de fevereiro e, atualmente, está na comissão especial. O relator, Samuel Moreira (PSDB-SP), prometeu apresentar o texto até a próxima segunda (10).
Bolsonaro comparou, ainda, a carteira de motorista a uma carteira de trabalho, ao defender o envio do projeto que dobra o número de pontos um motorista pode receber antes de perder o direito de dirigir.
Nesta terça, o presidente levou ao Congresso o projeto de lei e foi criticado. Para o relator da Previdência, Bolsonaro não tem noção de prioridade.
ANISTIA
Bolsonaro elogiou a atuação da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, na revisão das anistias para pessoas perseguidas durante a ditadura militar.
Pouco depois de assumir a pasta, Damares mudou o regimento da Comissão da Anistia para possibilitar que os autores de requerimentos só possam recorrer uma única vez das decisões do ministério.
Na visão de Bolsonaro, só houve anistia para esquerdistas. Ratinho, por sua vez, afirmou que a esquerda “colocou terroristas nos ministérios”.
"Dá pra entender essa esquerda? Eles chamam os outros de fascistas; eles que são fascistas", afirmou Bolsonaro.
“Pelo menos do nosso lado [os militares] não teve ninguém preso”, completou o presidente.
Bolsonaro exaltou a atuação das Forças Armadas durante o regime ditatorial e disse que sem o Exército o país teria sucumbido aos “perigos do socialismo”. Também defendeu a presença de generais em seu governo.
O presidente disse que pretende dar mais autonomia aos estados e citou como exemplo o modelo federalista dos Estados Unidos, em que estados têm leis penais próprias.
Ao ser perguntado sobre apoio à pena de morte, disse que a Constituição não permite esse tipo de punição e que não pretende mexer nessa questão.
O presidente também criticou a atuação do terceiro setor e afirmou que “tem mais ONG que índio na Amazônia”.
Nas últimas semanas, o Congresso rejeitou medida da reforma administrativa que estabelecia a fiscalização das ONGs pelo governo federal.
Em tom crítico, o presidente disse que Damares havia barrado um projeto de R$ 40 milhões de uma ONG "para ensinar índio a usar bitcoin”. Ao ser perguntado por Ratinho o que era bitcoin, disse que também não sabia. Logo depois se retratou e definiu o termo como moeda virtual.
Em referência aos protestos contra cortes na educação, disse que os manifestantes são “inocentes úteis” usados pela esquerda. Em 15 de maio, dia em que milhares foram às ruas contra a austeridade nas escolas e universidades, Bolsonaro havia chamado os estudantes de “idiotas úteis”.