Marinho colocou alguns, afirma. ‘Quem tem o voto é o político’

Poder 260 - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta 4ª feira (17.abr.2019) entender que há “jabutis” na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma da Previdência. O termo é usado para se referir a assuntos estranhos ao tema do projeto incluídos no texto.

“Nós fazemos a parte técnica e entregamos (…). Aí, como tudo na vida, quem tem voto é o político. Os políticos sentam e falam: que tal colocar isso daqui?”, disse em entrevista à GloboNews.

E completou: “Inclusive, alguns foram colocados pelo próprio Rogério Marinho [secretário especial de Previdência e Trabalho]. Tem uma particularmente que ele colocou lá que eu falei: como é que você coloca 1 negócio desse? E ele disse que queria realmente criar 1 espaço de negociação”. Guedes não quis dizer a qual ponto se referia.

Um dos trechos que vem sendo contestado por congressistas é o que trata da PEC da bengala e possibilita que mudanças nas aposentadorias compulsórias sejam feitas por meio de lei complementar.

“A Previdência realmente não deveria tratar de idade no ministro, a não ser que seja da aposentadoria (…). Pode ter sido 1 jabuti que foi colocado mesmo”, disse.

Guedes afirmou que o governo está disposto a ceder em alguns pontos. “Temos uma estratégia de negociação. Estamos preparados para ceder em algumas coisas e não ceder em outras.”

Apesar disso, reforçou que ainda acredita em uma reforma capaz de trazer economia de R$ 1 trilhão em 10 anos. Segundo ele, os cálculos de economistas que apontam para R$ 500 bilhões ou R$ 600 bilhões estão errados.

Com a Previdência travada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o governo abriu canal de negociação com partidos. Nesta 4ª feira (17.abr), Marinho recebeu líderes partidários para tentar fechar 1 acordo para exclusão de pontos do texto.

O ministro disse também que, se a articulação política entre Executivo e Legislativo tivesse sido mais afinada, a reforma da Previdência poderia ter avançado mais rapidamente no Congresso.

“É claro que se houvesse apoio decisivo do governo que estava chegando à candidatura do [Rodrigo] Maia para presidência da Câmara, estava selada a aliança de centro-direita”, disse. Questionado se o erro de coordenação havia sido do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, respondeu: “O [Davi] Alcolumbre foi eleito com apoio do Onyx. Então, ele errou na metade, acertou em outra metade. Política é política”.

Para o ministro, o apoio de congressistas à reforma melhorou desde o episódio em que cancelou sua ida à CCJ, em 26 de março. Ele afirmou que naquele momento “não estava ninguém a favor”.

DIESEL E AUTONOMIA

Questionado sobre a intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da Petrobras, Guedes disse não ter sentido que sua autonomia como ministro foi desrespeitada.

“Por enquanto não posso me queixar. Não fui atingido na minha autonomia. Nem quando houve agora esse episódio do petróleo (…). É natural que ele como presidente se precipite. Aconteceu da melhor forma? Não. Claro que não”, disse.

Segundo ele, a discussão envolvendo caminhoneiros e o preço do diesel tem uma dimensão política e outra econômica, o que o “presidente também entendeu”.

Guedes afirmou que, mesmo antes do episódio em que a Petrobras suspendeu o reajuste anunciado para o diesel a pedido do presidente, já estava em contato com o presidente da petroleira, Roberto Castello Branco, para discutir a política de preços.

“Não é 8 nem 80. O reajuste diário não é sensato do ponto de vista real. Nem o controle de preços”, disse.

AGÊNCIA PARA REGULAR FUNDOS DE PENSÃO

O ministro disse que o governo estuda criar uma “superagência” para regular os fundos de pensão. De acordo com ele, a superintendente da Susep (Superintendência de Seguros Privados), Solange Vieira, é a candidata para ficar à frente da unidade.

“Nós vamos criar uma superintendência de controle. Uma agência forte, que vai rever a governança desses fundos”, disse o ministro, que falou em “aparelhamento” e “destruição de recursos”.

MINISTRO DEFENDE O FIM DA APEX

O ministro disse que a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos) é 1 “órgão redundante”. A agência é ligada ao Itamaraty. Já está no 3º presidente em 4 meses e meio de governo Bolsonaro.

Questionado sobre o que faria se a Apex-Brasil passasse a ficar sob o guarda-chuva do Ministério da Economia, Guedes disse: “Se viesse para mim, eu acabava com ela.”

“Tem R$ 700 milhões ali para promoção comercial. Acho que o Itamaraty que tinha que fazer esse trabalho”, afirmou.